“Temos três medicas vivendo juntas e trabalhando no mesmo hospital. Uma
delas quase consegue fechar um hospital inteira, a segunda mata um paciente por
um milhão de dólares, e a terceira é assassinada.” (“Nada dura para
sempre”, pág. 01)
Título:
Nada dura para sempre
Autor:
Sidney Sheldon
Editora:
Record
Ano: 1994
SINOPSE:
Kate Hunter, Betty Talf e Paige Taylor são as únicas mulheres em um grupo de
médicos residentes de um hospital de São Francisco. Além de trabalharem juntas,
elas dividem o mesmo apartamento e protagonizam situações, no mínimo,
insólitas: a primeira, por pouco não provoca a interdição do hospital; a
segunda mata um doente em troca de 1 milhão de dólares; e a terceira é
assassinada. Em ‘Nada Dura Para Sempre’, Sidney Sheldon envolve o leitor em uma
trama na qual transitam profissionais da medicina e mafiosos, pacientes e
viciados em drogas. Um jogo de gato e rato capaz de tirar o fôlego, com todos
os elementos que transformaram os livros de Sheldon em campeões de vendas.
Sheldon vem mais uma
vez entreter seus leitores com uma narrativa ávida, enlouquecida e carregada de
tramas que embargam as personagens num cenário totalmente fascinante. Depois de
inúmeros sucessos como “O reverso da medalha”, “O outro lado da meia-noite” e
“O céu está caindo”, Sheldon traz uma narrativa surpreendente que lhe permite
questionar: OS FATOS SÃO REALMENTE
A VERDADE POR TRÁS DO QUE SE MOSTRA?
Aqui, Sidney Sheldon
nos apresenta a três residentes cujas vidas são entrelaçadas pela Medicina e
mudadas por ela. A narrativa já se inicia num tribunal com o julgamento de
Paige Taylor, como um prólogo bem estruturado. Pouco a pouco e conforme a
história nos é contada, a claridade dos fatos lhe arrebata e lhe mostra os
acontecimentos em sua face real, tornando a repensar as situações tal como
ocorreram.
Sheldon costuma ser um
gênio em suas construções narrativa e isso é notável aqui da mesma forma. O
entrelaçar das ações pelas personagens, a forma como agem e como lidam consigo
próprias é passível de grande valor e transporta o leitor para o universo de
Sheldon sem muito esforço. As personagens femininas aqui presentes, bem como em
alguns de seus outros livros, são fortes, determinadas e poderosas,
características que o autor coloca muito bem.
Por se passar em
ambiente hospitalar, o autor se mostrou um verdadeiro mestre na pesquisa. Os
termos clínicos usados, a retratação do ambiente e o ritmo de trabalho se
demonstram bastante fiéis à realidade: três mulheres com diferentes vidas e
passados, defronte ao cotidiano de uma época cujo preconceito ao seu gênero na
profissão médica era demasiadamente acentuado. Vê-se como havia um forte
problema frente à presença delas numa classe e, mais tarde, no próprio
hospital, pelo fato de serem mulheres. Há também, a demonstração de como elas
eram assediadas e submetidas a piadas e brincadeiras pejorativas e de conotação
sexual altamente desagradável pelos outros médicos que conviviam com elas. Uma
dessas possíveis brincadeiras é o que acaba resultando numa situação
trágica e levando toda a narrativa a um enlace surpreendente e esclarecedor. Um
detalhe que me passou muito repentinamente foi a questão: dentre tantos e
inúmeros residentes presentes no hospital, as únicas mulheres presentes –
realmente médicas – é que foram envolvidas nos escândalos envolvendo o hospital
e suas profissões. Um detalhe, inúmeras suposições. Uma das suposições que me
vem à mente é a força arrebatadora e altamente nociva que uma mulher apresenta
em sua composição, não o havendo nada que se equipare a elas, ainda mais com o
poder e o título de médicas em mãos. Mas se há algo que possa servir de
explicação concreta para tal fato, segue uma das duas frases que servem de
antecessoras ao início da narrativa:
“Há três classes de seres humanos: Homens, mulheres e médicas.” Sir
William Osler
A história em si é
curta, mas seu ritmo é frenético. A necessidade de consumir os fatos e as
ações, o que conduziu Paige – cuja personagem está presente com peso no prólogo
– leva o leitor a buscar as respostas com a maior rapidez possível naqueles
instantes de tensão. Sem cerimônia, Sheldon nos leva à verdade e a resolução do
que parece ser um desastre imensurável.
É uma interessante
constatação que os livros de Sheldon, ainda que contenham amores e suas
perdições, não foquem na exatidão desse sentimento. Ou seja, Sheldon envolve
aspectos mais tenebrosos e sombrios da realidade acerca de tal sentimento, bem
como as marcas de dor e vingança que podem representar no futuro por aqueles
que foram feridos ou que feriram.
Ademais, a história
traz um vocabulário com mínimas ocorrências de termos pejorativos, é uma
narrativa bem estruturada, clara e é – como chamamos na Literatura – de romance
fechado, isto é, cujas pontas acerca das personagens e suas vidas são todos
resolvidos e esclarecidos, sem permitir que o leitor não saiba o que aconteceu
com determinados pontos da história, permitindo a claridade intacta dos fatos
ocorridos.
Sidney Sheldon
começou sua história rumo ao sucesso quando decidiu participar dum programa de
calouros que foi a chave para que conseguisse abrir as portas de Hollywood,
revisando e colaborando com roteiros de filmes de segunda linha.
Após o serviço militar,
durante a 2ª Guerra Mundial, passou a escrever musicais para a grandiosa
Broadway, bem como roteiros para a Paramount Pictures. O imensurável sucesso de
suas peças – ou daquelas que o tinham durante a produção das mesmas – o levou
ao cinema e ao conhecer de grandes nomes como Marilyn Monroe, Doris Day e Cary
Grant.
Seu primeiro romance
data de 1969 e foi intitulado “A Outra Face”, o que se mostrou um verdadeiro
sucesso e resultado dum talento sem limites que perdurou até sua última
publicação autobiográfica: “O Outro Lado de Mim: Memórias”